
Normalmente, a preocupação com a estética é grande entre ideologias que se pretendem santas, inspiradas. São lindas aquelas obras bem humanas que conferem “divindade” a alguns templos cristãos e que não deixam de ser, em grande parte, imitações da estética que conferia divindade a Júpiter e a outros deuses, como a estatuária, a cúpula, os capitéis clássicos, a colunata, os afrescos, incensos, as togas dos sacerdotes, as palavras mágicas em latim, etc.
Muitos consideram o Vaticano um bom exemplo de inspiração divina, do quão alto o homem pode ir motivado pela fé no verdadeiro deus. Ora, na Renascença, o mesmo artista que pintava uma madona ou um menino Jesus poderia pintar, enquanto a outra obra secava, uma Afrodite e um menino Hércules lutando contra serpentes. Para ambos temas às vezes eram os próprios papas os clientes, que encomendavam obras sacras para as igrejas e profanas para seus palácios. Tudo que um artista precisa é de técnica, demanda, competição, remuneração e até mesmo de um pouco de inspiração e talento.
Os devotos veem mais santidade em um lugar como a Basílica de São Pedro do que em uma capelinha miserável no interior do Piauí com rachaduras nas paredes e ar cheirando a ricota velha, ainda que para eles o pão transubstanciado em carne no interior do Piauí não deveria ser menos Cristo do que aquele transubstanciado perante o Papa B16. Mas o que a presença física do próprio Cristo pode contra Bernini, Bramante e Michelangelo? Nada! A aura "santa" que se sente no Vaticano sente-se também no Louvre, embora no primeiro caso a fé potencialize a sensação e crie aquela estupefação pretendida por Leão X.
Cave uma gruta nas cercanias de Jerusalém e diga a turistas ignorantes que foi lá onde Jesus fez a penúltima ceia com sua gangue. Ficarão arrepiados, sentirão a aura de santidade do local, tocarão nas pedras, sentirão o próprio Cristo no local. E experimente ainda acrescentar uma roseira de bronze na entrada, uma estátua de mármore muito bem talhada, acender incensos e velas; terão orgasmos múltiplos.
E a mesma sensação de direito, de santidade, de sublimação, de superioridade sentiram com a ajuda da arte aqueles que foram iludidos pelas ditaduras desastrosas que mencionei no começo do post.